O AZOTO


O Azoto (N) é um dos elementos químicos mais importantes na Terra. Mais de dois terços do ar que respiramos são compostos por azoto. Ele é muito importante para a vida, sendo usado para construir os aminoácidos, as proteínas e o DNA.

Os compostos de azoto podem ser agrupados em Azoto não reativo (N2) e Azoto reativo (Nr). Cerca de 78% da atmosfera é composta por N2. Esta forma de gás inerte é inofensiva, mas não está sempre disponível para os organismos vivos, que precisam de azoto para sobreviver e se desenvolverem. Os compostos de azoto reativo encontram-se no ar, na água e no solo. Eles transformam-se com muita facilidade e perdem-se no ambiente. Quando se encontram em excesso podem causar impactos negativos no ambiente.

Antes do séc. XVIII o Azoto reactivo não se acumulava no ambiente porque os processos utilizados na agricultura, de fixação biológica de azoto e desnitrificação, eram mutuamente compensados. No entanto, a revolução industrial representou um ponto de viragem na relação do Homem com o ambiente. Aumentou a qual idade de vida humana e permitiu o aumento da população mundial. Este grande aumento da população resultou no aumento da produção de energia e de alimentos e respectiva industrialização da agricultura. Estes aumentos resultaram numa produção incontrolável de resíduos com consequências negativas para o ambiente.

Em 1909 a invenção do processo Haber-Bosh permitiu a síntese de fertilizantes de azoto a partir de azoto não reactivo (N2) e energia, o que impulsionou o uso de azoto na agricultura, resolvendo assim o problema da fome no mundo. Sem a invenção deste processo metade da população mundial não estaria viva. Contudo, esta técnica trouxe custos muito elevados, alterando o ciclo do azoto com a transformação de N2 em Nr (azoto reativo) tornando, assim, o azoto no mais importante poluente da agricultura. Grande parte da fracção de azoto utilizada na produção alimentar e de biocombustíveis, bem como todo o azoto utilizado em combustíveis fósseis e produção de energia, são perdidos para o ambiente. Do azoto utilizado para a produção de bens alimentares, cerca de 80% perdem-se antes do consumo e o restante é perdido depois, sob a forma de resíduos. Uma vez perdido para o ambiente, o azoto entra na atmosfera, nas florestas e nos rios/oceanos causando uma cascata de mudanças ambientais com impacte negativo nos ecossistemas e consequentemente no Homem. Estas mudanças incluem chuvas ácidas, a morte das florestas, "zonas mortas" costeiras, a perda da biodiversidade, a destruição da camada de ozono e um aumento do efeito de estufa, com as respetivas consequências na alteração climática.

A produção de alimentos e energia são as principais responsáveis pela acumulação do azoto reativo na Terra. Cerca de 77% do azoto reativo antropogénico provém da produção de alimentos, 16% da produção de energia e 9% da produção industrial. Uma das atividades com maior potencial de poluição é a produção animal, que consome cerca de 85% do azoto total usado na produção de culturas.
O consumo de carne de vaca representa 24% do consumo total de carne no mundo, o de porco 40% e o de aves 34%. No entanto, embora o consumo de vaca represente a menor percentagem de consumo, são os animais que ocupam mais terras agrícolas no mundo, cerca de 60%, devido à forma de produção extensiva.

 

 

Em média, um cidadão da UE consome mais carne e produtos de origem animal do que o necessário para uma dieta saudável. Se os Europeus obtivessem mais proteínas a partir das plantas e menos a partir das carnes animais, seriam necessárias apenas 30% das culturas e a poluição do azoto seria reduzida em 70%. Os EUA são também grandes consumidores de carne e, se os americanos adoptassem a dieta típica mediterrânica, o uso de fertilizantes inorgânicos no mundo diminuiria cerca de 65%.

 

 

CASCATA DO AZOTO


O vídeo seguinte, criado por Erin Siegel e pelo Professor Myrna Jacobson Meyer da University of Southern California, traduzido por Inês Leitão (Eng. do Ambiente do Instituto Superior de Agronomia) e Cláudia Cordovil (Professora Instituto Superior de Agronomia), descreve como os compostos de azoto se comportam no ambiente e o forte impacto que um simples átomo de azoto reactivo pode ter no solo onde cultivamos, na água que bebemos e no ar que respiramos.

 

 

UMA MENSAGEM DE EUROPEAN NITROGEN ASSEMENT:

 

 

CALCULADOR DE AZOTO

 

Os indicadores são a melhor forma de chamar a atenção do público em geral e aumentar o conhecimento sobre um problema particular. Desde 1992, com a criação do indicador pegada ecológica têm-se posto em prática outros indicadores, tais como a pegada do carbono, análise do ciclo de vida e a pegada alimentar. O indicador recentemente desenvolvido foi a pegada do azoto.
O calculador de azoto foi publicado a 19 de Fevereiro de 2011, pela primeira vez, nos Estados Unidos da América, no encontro da "American Association for the Advancement of Science em Washington DC". Esta ferramenta foi publicamente anunciada no simpósio do Azoto entitulado "Global and Local Responses to the Nitrogen Challenge: Science, Practice, and Policy."

A equipa que iniciou o projecto N - PRINT é composta por pesquisadores de azoto de várias organizações:
 - James Galloway e Allison Leach da University of Virginia, EUA
 - Albert Bleeker e Jan Willem Erisman da Energy Research Center of the Netherlands, Holanda
 - Richard Kohn da University of Maryland, EUA
No site http://n-print.org/ está disponível toda a informação relativa à criação e desenvolvimento deste projecto.

Na Europa, o Calculador de azoto foi apresentado em Edimburgo a 13 de Abril de 2011, na conferência "Nitrogen and Global Change".

Portugal juntou-se a este projecto em Dezembro de 2011 num workshop em Londes, Reino Unido. Neste encontro reuniram-se representantes de 11 países: Portugal, Estados Unidos da América, Holanda, Alemanha, Inglaterra, Espanha, França, Finlândia, Suécia, Itália e Eslovénia.

Em 2012, Leach e outros autores desenvolveram a primeira de três ferramentas que irá unir o sistema N-Print capaz de calcular as perdas de Nr para o ambiente, chamada Calculador de Azoto. Trata-se de um modelo de pegada pessoal que permite calcular a pegada de N para um País em Kg per capita por ano, contabilizando todas as perdas de Nr libertadas através da recolha de dados sobre os hábitos de consumo individual de alimentos e energia. O consumo de alimentos reflecte as perdas de N ao longo de todo o processo de produção e consumo, contabilizando desde o fertilizante aplicado à cultura, resíduos, transporte e todas as outras perdas de Nr que possam ocorrer durante o processo. O consumo de energia reflecte as perdas de Nr através das emissões de gases NOx por queima de combustíveis fósseis. A pegada de energia está dividida em três partes: habitação, transportes e bens e serviços.

Em 2013, de acordo com o modelo proposto por Leach, mas com adaptações à dieta típica mediterrânica, foi aplicado o calculador de azoto em Portugal, na região de Lisboa.

Se quiser saber mais, clique nos links abaixo para aceder à publicação dos artigos científicos.

  - A nitrogen footprint model to help consumers understand their role in nitrogen losses to the environment. Leach, AM, JN Galloway, A Bleeker, JW Erisman, R Kohn, J Kitzes. 2012. Environmental Development.
- A first approach to the calculation of N - Footprint in Portugal. Cordovil CMdS, Gonçalves V, Varennes A. 2014. Em publicação, brevemente disponível.

Pode ainda estar informado sobre todas as notícias relacionadas com o azoto através de http://www.nitrogennews.com/ e através de http://www.initrogen.org/.